Pai...
Outro dia eu
estava na sala e você me gritou do quarto: - Filho, consegue colocar mais uma
coberta que o pai tá com frio?
Eu pensei em
resmungar e mandar você mesmo fazer isso, mas, ai me lembrei de todos chás que
você já fez para me ver melhor do resfriado, ou da dor de barriga, ou da dor de
garganta, ou de qualquer dor que eu sentisse.
Lembrei
também, das noites em que veio me cobrir, ou que veio medir a minha febre de 10
em 10 minutos.
Fui, cobri o
senhor com outra coberta, mas voltei para sala e continuei pensando, em você
Pai.
Lembrei-me
então, dos tempos de criança, lembro que você algumas vezes não queria brincar
pois havia trabalhado o dia todo em baixo do sol e estava com muitos problemas na
cabeça. Lembro que eu ficava chateado. Mas lembro também da sua cara de
preocupação, do cansaço estampado no olhar.
Lembro como se
fosse hoje também, das noites em que eu estava dormindo, e ouvia alguém
chegando no meu quarto, via que era você e fingia continuar dormindo. Sei que
por diversas vezes, mesmo cansado, você vinha ao meu quarto, simplesmente para
ver se eu estava bem, colocava as mãos sobre minha testa para ver se eu estava
com febre, ajeitava o cobertor, me dava um beijo e voltava a deitar.
Se eu quebrava
um dente, lembro que você deixava algumas moedas embaixo de meu travesseiro.
Eram poucas naquela época, e com certeza, sem muito valor, mas hoje eu percebo
que essas moedas valiam ouro. Porque esses simples gestos não saem da minha
cabeça.
Sempre
demonstrei ser muito forte, mas quando você saía para trabalhar ou viajar, eu
ficava apreensivo, nunca lhe contei, mas meu coração doía de saudades. Pedia a
Deus que lhe protegesse e lhe trouxesse de volta. Como prometido, você sempre
voltava.
Sofrido, abatido,
cansado e sujo, mas voltava.
Hoje fico
pensando, se você é tão importante para mim, por que às vezes eu o esqueço?
Por que não
tenho tempo para sentar do seu lado e te escutar?
Por que às
vezes não consigo retribuir todo o seu carinho?
Você me carregou
no colo muitas vezes, pegou filas e filas para um atendimento médico, perdeu
noites de sono, pediu dinheiro emprestado para não deixar faltar comida em
casa, até vendeu sua casa quando tudo estava difícil.
Por quê as
vezes sou ingrato?
Hoje lhe vejo
um pouco mais frágil, com a coluna desgastada pelo tanto tempo trabalhando de
pedreiro, seus cinquenta e poucos anos as vezes pesam.
Apesar de tudo
isso, todas as manhãs você está sempre alegre e disposto.
Seja para me
dar um bom dia animado, ou para fazer aquela torrada de café da manhã que eu
gosto tanto, ou para fazer outros agrados. Não entendo. Apesar de toda sua
bondade, às vezes ainda sou rude, reclamo da vida, dos negócios feitos ou
desfeitos e mesmo assim você tem toda paciência comigo.
Então, pai, desculpa
pela demora, mas quero confessar, que tento ser você todos os dias, antes de
fazer algo, penso no senhor e no que o senhor faria. Já não me importo mais com
o que as pessoas vão pensar se eu te abraçar em público, te beijar o rosto,
hoje, mesmo com meus vinte e um anos, quero que me segure no colo como segurava
quando eu era pequeninho, pois, não conta pra ninguém, mas você continua sendo
o meu super-herói.
Texto ajustado por: Vinícius Daniel Bedin
Texto ajustado por: Vinícius Daniel Bedin